terça-feira, 17 de maio de 2011

MANIFESTO




Poderei estar dizendo um monte de sandíces aqui, mas até mesmo sandíces tenho direito de dizer, se quero provocar alguma reflexão arrazoada. Elas fazem parte de nossa incompleta informação. E quem a tem por inteiro ?

Ao cabo de exaustivos seis anos, o acadêmico de medicina egresso de sua escola forma-se e passa a ser conhecido como medico. A partir deste momento, se já não haviam ditto para ele, irá saber que o Conselho Federal de Medicina preconiza que todo medico é livre para exercer a especialidade que se sentir apto. Além disso, aprende que, não importa a especialidade que venha a exercer, a omissão de socorro constitui crime inafiançável. Diante destas duas assertivas, sabe que não pode ser impedido de exercer sua profissão, segundo os ditames de sua consciência e de seu código ético, que reforça ainda que nenhuma instituição pública ou privada, em caráter municipal, estadual ou nacional pode impedir o medico ao seu livre exercício.

A partir destes elementos, gostaria de entender o que acontecerá ao medico recém formado que, se não passar em uma prova da OMB ( a OAB médica ) sera impedido de exercer sua profissão. Pior, se proibido, não incorrerá em omissão de socorro ? Se ele puder ser enquadrado na omissão, não pode ser proibido de exercer.

Outra questão é a especialização . Se uma necessidade, não deveria ser obrigatória ? E se obrigatória, não deveria ser franqueada a todos, pelo Estado, ao menos uma especialidade. Não, saimos da faculdade nos debatendo em raias de corrida, por mínimas vagas, para realizarmos um programa de trabalho barato, para, daqui a dois, três anos, nos outorgarem o direito de exercer o que tanto lutamos para fazer. Sem contra o Mercado das especializações latu-sensu, que não nos franqueiam em sua maioria a possibilidade ao título e ainda tomam de nós grandes somas.

Que pais é esse que não enxerga estas incongruências ? Que medicos somos que deixamos estas coisas acontecerem e não nos unimos em prol de defender nossa arte ? É um absurdo medir alguém pelo número de títulos de que disponha. Não lançamos nossos certificados sobre os pacientes, para que eles, magicamente, curem-se. É com o saber, com o pensar e com o sentir que somos medicos e isso a cada dia tem menos importância nesta era fast food que vivemos em todas as areas.
Se a medicina não deve ser encarada como comercio e ela o é por todos os hipócritas que dizem que não, necessitamos de uma intervenção urgente do Estado, para garantir aos medicos boa formação, especialização digna, bolsas dignas, para que o medico exerça seu ofício bem, não pela quantidade de horas em que não vê sequer o próprio lar para ganhar seu sustento, mas pela qualidade e pela alegria em servir aos seus. Quantos de nós ainda acordam com amor pelo que fazem ?

domingo, 15 de maio de 2011

CRENÇAS SOBRE CONVÊNIOS

Crenças sobre os convênios




Crença número 1: Se não atender convênio, não terei pacientes.

Esta é uma das crenças mais disseminadas e fomentadas pelos que atendem convênio (pois justifica a opção) e pelas próprias operadoras, que só sobrevivem porque ela está sedimentada na cabeça dos médicos.

A lógica dos convênios é: quanto maior o número de clientes (vidas) que uma operadora tem sob seus cuidados maior é a receita, quanto menos pagar pelos serviços, maior o lucro.

O convênio oferece uma “carteira de clientes” extensa e cativa e paga o mínimo pelo procedimento – a lógica do profissional passa a ser: quanto mais atender, maior é o ganho.

O que todo médico esquece é que estamos num país capitalista e um consultório é um “negócio”. Todo negócio tem fases. Primeiramente é a fase de investimento – quando os gastos ultrapassam em muito qualquer retorno. Depois vem a fase de latência e estabilização e somente após vários anos do inicio do empreendimento é que existe o retorno do capital investido.

Existem regras matemáticas que determinam o tempo de retorno, o custo da oportunidade de negócio e a taxa de retorno. Nenhum investidor espera retorno do capital investido antes do tempo de maturação do negócio.

O que ocorre com o consultório médico é que o médico na fase de investimento tem outras atividades paralelas que subsidiam-no (plantões, empregos de meio período no serviço público, etc).

Devido às características intrínsecas do negócio – atendimento personalizado e marketing viral (boca a boca) normalmente leva-se cinco anos para um consultório médico se estabilizar e dez anos para que ocorra o retorno do capital investido e conseqüente capacitação para sobreviver unicamente dos proventos dele originado*.

O convênio oferece a falsa ilusão da minimização do tempo de latência, visto que a demanda e oferta de serviços é controlada pela carteira de clientes cativos. Contudo, devido a baixa remuneração prolonga-se quase que indefinidamente o tempo de maturação plena do negócio, ou seja, ao invés de 10 anos* para se viver exclusivamente do consultório, o profissional passará muito mais tempo subsidiando-o através de empregos e sub empregos, visto que a baixa remuneração oferecida pelo convênio muitas vezes sequer paga os custos fixos do consultório.

A busca do paciente é pelos resultados. O médico premido pelos custos tem que atender cada vez mais, conseqüentemente a qualidade e os resultados são cada vez mais comprometidos. A médio prazo, ao invés da procura pelos seus serviços crescerem ocorrerá o contrário, a demanda tende a diminuir, o que fará com que o médico passe a se dedicar mais, cresce a demanda, atendendo mais cai a qualidade individual do atendimento e consequentemente a demanda tende a cair novamente e como uma gangorra o consultório vai se mantendo.

Se, ao contrário, o médico determina o seu próprio preço e nível de qualidade independentemente do número de atendimentos e compatibiliza o preço de acordo com a demanda e a oferta não se submetendo a um preço único de compra de seus serviços – que é a definição do profissional liberal - consegue manter a remuneração adequada além de atender número compatível de pessoas que a sua saúde e o comprometimento com o paciente merecem. Além de abrir espaço para os novos colegas que chegam ao mercado de trabalho que atenderão os pacientes que por motivo financeiro ou por falta de tempo não poderão ser atendidos pelo colega mais antigo.

Ter pacientes não depende de atender ou não convênio, mas sim da capacidade de suportar uma fase maior ou menor de latência do negócio.

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Crença número 2: Se não atender convênio não vou atingir as camadas mais carentes com o FAO.

Talvez esta seja uma das maiores falácias da medicina. Somente 40 por cento da população brasileira têm acesso a medicina privada – convênios. Todo paciente que tem convênio pode pagar uma consulta médica, simbólica que seja.

Determinar o preço do próprio trabalho não quer dizer cobrar preços exorbitantes. Pelo contrário. Tal qual os psicoterapeutas que avaliam conjuntamente com seus clientes a possibilidade de pagamento, o médico não deveria permitir que outros determinassem quanto o paciente deveria pagar-lhe. A individualização do paciente passa pelas condições econômicas de iniciar e prosseguir com o tratamento. O pagamento faz parte da relação médico paciente.

O acesso universal ao FAO deve ser preocupação e luta dos médicos através do Sistema Único de Saúde e não através da medicina privada.

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Crença número 3: Vou atender convênios até ficar conhecido, depois deixo os convênios para atender somente pacientes particulares.

Esta é uma das maiores ilusões nutridas por alguns médicos. Normalmente são aqueles que vivem no futuro e não conseguem trabalhar com o presente.

Devemos compreender que um negócio ao ser implementado tem um público alvo no qual será gerada a demanda para usufruir dos serviços prestados por ele.

Ao se criar um consultório que atende convênios, o público alvo é o paciente convênio. A relação estabelecida entre o médico e o paciente é INTERMEDIADA pelo convênio SEMPRE.

Quando o médico deixa de atender um convênio – o paciente, com raríssimas exceções, irá em busca de outro médico conveniado. A fidelização do cliente é para com o convênio e não para com o médico. O que ocorre é que ao decidir atender somente particulares, o médico cria um novo negócio, no qual assim como no primeiro, terá que investir, ter um período de latência, estabilização e só depois de muitos anos terá o retorno do capital investido, protelando indefinidamente sua sobrevivência exclusiva através do consultório médico.


O FAO além de curar nossos pacientes e nós mesmos como terapeutas tem a capacidade de curar nossas relações profissionais.





Heidwaldo Antonio Seleghini




*O tempo estimado entre período de investimento, latência e retorno do investimento são genéricos e variam de acordo com contexto onde está inserido o negócio e o montante de investimento introduzido assim como com a capacitação do profissional.

PARA NÃO COMETER O MESMO ERRO DUAS VEZES

O exercício de uma profissão é fruto de uma série de fatores. Normalmente a
sobrevivência vem em primeiro lugar, concomitantemente se conseguimos ob-
ter satisfação emocional e espiritual no exercício profissional somos felizardos.
A profissão médica, diferentemente de outras, não deve visar lucro ou ganho fi-
nanceiro puro e simples. A assimetria de conhecimentos entre médico e pa-
ciente advinda da exaustiva formação acadêmica deve implicar na sedimenta-
ção de padrões éticos rígidos que visem sempre o bem estar do paciente e não
em ganhos patrimoniais exorbitantes àqueles que de alguma forma contratam
ou prestam serviços médicos.
A história da homeopatia brasileira após a década de 70 do século passado é a
história da sedimentação da homeopatia na malha social e da introdução, ainda
que tênue, nas lides acadêmicas.
Os antigos homeopatas em nenhum momento tiveram quaisquer dificuldades
quanto à sobrevivência. Todos eram oriundos de um tempo onde o pagamento
pelo serviço médico era feito quase sempre em espécie pelo paciente e não
existiam intermediários que exploravam seus serviços.
Durante o ensino da homeopatia clássica e constituição das várias entidades
representativas estratégias para a sobrevivência dos médicos foram relegadas
ao segundo plano, visto que bastava uma boa formação para que o exercício
profissional fosse suficientemente lucrativo para garantir a sobrevivência e a
continuação da profissão homeopática.
As associações médicas homeopáticas até o final do século passado preocu-
pavam-se muito mais em sedimentar a homeopatia entre os nossos pares mé-
dicos (CRMs, CFM, AMB) do que com a sobrevivência de seus sócios, mesmo
porque a maioria dos dirigentes era oriunda da geração anterior a dissemina-
ção dos convênios.
A partir do final da década de 90 a maioria dos homeopatas – preocupados
com a própria sobrevivência, passaram a aceitar a intermediação das operado-
ras de saúde.
A homeopatia é uma especialidade exclusivamente clínica. Apesar da criação
do procedimento médico homeopático da repertorização* o valor acrescido à
consulta é atualmente irrisório e nem sempre aceito pelas operadoras.
A homeopatia clássica brasileira encontra-se num beco praticamente sem saí-
da. A epistemiologia e semiologia homeopáticas clássicas requerem que o
exercício profissional, para ser bem sucedido, individualize exaustivamente o
paciente – o que é praticamente impossível de ser feito nos quinze minutos em
média de uma consulta clínica* do convênio (tempo que possibilita lucro real ao
prestador de serviço, mais do que isto pode acarretar prejuízo).
Portanto o empobrecimento do médico sério e consciente é patente. A médio e
longo prazos a homeopatia clássica poderá deixar de existir, não porque seja
ineficiente, mas simplesmente porque não existirão médicos que consigam so-
breviver dignamente com os proventos gerados pelas operadoras de saúde. De
pouco ou nada valerão existirem excelentes cursos ou residências médicas de
homeopatia se não tiverem alunos!
Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes!!
O FAO é uma revolução.
Aparentemente e só aparentemente é de mais fácil prescrição em virtude do
diagnóstico medicamentoso ser diferente do homeopático clássico.
O médico de boa formação entende o quão imprescindível é uma anamnese
completa, bem elaborada, com a realização do diagnóstico biopatográfico e in-
dividual. O seguimento miasmático é imprescindível para o acompanhamento
adequado do paciente concomitantemente com a observação das leis de cura
de Hering.
Para concretização desta avaliação – juntamente com os diagnósticos médicos
usuais é necessário TEMPO. Tempo este que as operadoras de saúde não
oferecem e não incluem no seu pagamento a assistência pós consulta (telefo-
nemas e contatos para solução de dúvidas).
A profissão médica é uma profissão liberal. O que caracteriza uma profissão li-
beral é a capacidade do profissional de determinar o valor de seu trabalho com-
putando os custos (aluguel, telefone, energia, secretária, impostos, bens imobi-
lizados, taxas de CRM, sindicato, INSS autônomo, previdência privada, férias,
material de consumo, etc, etc) versus a receita (consultas clínicas).
Um empregado recebe além do salário mensal, férias remuneradas com acrés-
cimo de 30%, aposentadoria, fundo de garantia, etc, etc., e tem em contraparti-
da o seu trabalho pago de acordo com as condições do empregador.
O médico ao aceitar o preço pago pelas operadoras transforma o único bem
que pode vender (consulta médica) em uma commodite – ou seja, independen-
te do valor que venha agregar ao seu trabalho (estudo, especialização, mestra-
do, doutorado, congressos, trabalhos publicados, etc) QUEM DETERMINA O
PREÇO A SER PAGO É O COMPRADOR DO BEM DE CONSUMO (operado-
ra) e não quem produz o serviço (médico).
Deixa, portanto, o médico de ser dono de seu destino e sobrevive em dois
mundos (infernos?), pois não é assalariado – porque não tem as garantias do
emprego e não é profissional liberal - porque não pode determinar o valor de
seus proventos.
Tal situação compromete substancialmente a sobrevivência do profissional,
que paga suas contas aos trancos e barrancos, muitas vezes relegando a apo-
sentadoria e o lazer para segundo plano.
O compromisso maior do médico é para com seu paciente. O acesso da popu-
lação ao FAO através de médicos bem preparados e com condições dignas de
sobrevivência e consequentemente capazes de legar para as próximas gera-
ções a Terapêutica FAO deve ser uma das principais metas desta geração de
médicos que de alguma forma estão introduzindo a Racionalidade FAO na me-
dicina.
O médico, ao tornar-se um médico FAO, deve ter a responsabilidade de com-
prometer-se com esta técnica única e revolucionária a ponto de não abrir mão
de comandar o seu próprio destino como e nunca permitir que seu trabalho
seja objeto de lucro e interferência de terceiros – as operadoras de saúde –
pois, assim como a homeopatia clássica hoje se ressente amargamente desta
interferência, o FAO poderá no futuro ter problemas para se sedimentar junto a
sociedade, devido a incapacidade de sobrevivência digna de seus prescritores.
O grande erro dos dirigentes (meu inclusive) e médicos homeopatas clássicos
foi menosprezar a virulência da submissão aos intermediários da saúde acredi-
tando que devido às características da homeopatia estariam imunes ao mal
que se alastrou na medicina ortodoxa.
O que vemos hoje é exatamente o contrário – a medicina ortodoxa de alguma
forma, através dos procedimentos, está encontrando novas maneiras de garan-
tir a sobrevivência dos profissionais e a homeopatia cada vez mais se fragiliza
ante as dificuldades que se avolumam.
Não podemos deixar que isso ocorra com o FAO!
Não podemos cometer o mesmo erro duas vezes!

Heidwaldo Antonio Seleghini
Presidente da Associação Médica Homeopática Brasileira – 1998/2002
*Repertorização: Durante a gestão 98/02 da AMHB obteve-se junto a Associação Médica Brasi-
leira a introdução do procedimento médico homeopático repertorização na Classificação Brasi-
leira Hierarquizada de Procedimentos Médicos. Originalmente estava classificada com valor 2A
, atualmente 1A . Consiste na tabulação por ordem de importância ou não dos sintomas obtidos
através da individualização do paciente visando o diagnóstico medicamentoso. Utiliza-se com-
putadores para realização do procedimento.
*Consulta clínica: ato médico que consiste em anamnese, exame físico, solicitação de exames
e prescrição médica. Não consta de procedimentos armados ou utilização de aparelhos sofisti-
cados e todo médico está legalmente apto a realizar.

terça-feira, 6 de julho de 2010

A dor que dói no outro é uma janela de onde me enxergo. É como se por um instante fosse quebrada a minha capacidade de diferenciação. Trabalho com os bastidores da humanidade. Vejo e escuto o que não se costuma revelar, uns nem para si mesmos.

Sou testemunha do sofrimento causado pelo descompromisso com a verdade. Meu ofício é reciclar – ressignificar o dito pelo não-dito, maldito pelo bendito. É através da palavra que bendiz que podemos acender as luzes que ajudam a alma a amanhecer.

Viver amanhecendo é aprendizado de não se perder de vista. Não se deve estender no tempo a duração da noite. Permanecer fechados em cavernas a espreitar sombras não nos prepara para luz embora aumente o anseio pelo clarão. O quanto de claridade uma pessoa suporta?

Restaurar com gotas homeopáticas da compassiva escuta e solidária bendita palavra a esperança, é meu ofício de bem-aventurança, e não à toa minha primeira especialidade é o cuidado com criança.

Crianças aprendendo a falar o que no coração está a pulsar; crianças reaprendendendo a linguagem da essência, é o que tenho tido a oportunidade de exercitar na prática de estar para o outro através do que de melhor há em mim.

E é nos bastidores do Homem que minha vida passa por sustos. O cotidiano me assombra com o quanto de agressividade existe no que humano se diz ser. Uma das mais ácidas é a inveja. Invejar é pior do que cobiçar. Será tão difícil assim o exercício do admirar e lutar para conquistar? A verdade com que a vida de quando em vez me bate na cara é o quanto é muito mais fácil suportar o sofrimento alheio do que a alegria. Nossa alegria só é suportável para as pessoas que verdadeiramente nos amam.

É de costume dizer que reconhecemos os grandes amigos no momento de nosso sofrimento, mas não é verdade. Ledo engano. Os verdadeiros amigos são aqueles que suportam a duração de nossa alegria.

Quantos se chegam para beber do som da minha gargalhada e comer do sabor do meu sorriso? Agora quantos mais são os que enviesadamente chegam e me perguntam como posso ser assim tão feliz? A quantos nutro enquanto tanto incomodo?

Senhor eles não sabem o que dizem nem o que fazem, perdoa-os! Afinal, o que posso fazer se tudo em mim acaba em riso e poesia? O que posso fazer se escolhi entregar-me a vida com resignação e alegria? Peço perdão por mim, que escolhi viver amanhecendo? Carpe diem! Bom dia!

O sofrimento é uma realidade que nos congrega com muita profundidade. Já a alegria é libertária.

Schopenhauer dizia que o sofrimento do outro nos acorda para a verdade de nossa condição. Somos frágeis. Uns mais...! E ao encontrarmos o outro mergulhado em sua dor, é natural que brote dentro de nós a compaixão. Até frente ao inimigo a compaixão em nós desabrocha, e não por santidade, e sim por clareza de nossa própria e tão íntima miserabilidade. O outro abre suas porta e eu me enxergo pelas portas abertas, e pelas cortinas que escondem as minhas janelas, espreito. O outro sou eu. O outro sou eu, também. É-me impossível vê-lo sofrer sem fitar a minha inegável condição de vulnerabilidade.Humano D+! ( adaptado de Denise Espiuca )

MULHERES DEUSAS E DEMÔNIOS NO ÂMAGO DO SER HUMANO.




O pensamento cristão na abordagem católica conhecida, ao longo de sua evolução histórica, engendrou e estimulou a mariolatria ou o culto a Maria Virgem mãe de Deus-Jesus, trazendo ao arquétipo de mulher e principalmente de mãe uma categoria majestática e divina, que hipertrofiou o comportamento encouraçado da criatura humana, como diriam certamente Jung, Reich e seus discípulos.
De mãe de Jesus, a virgem do Sião na Ave Maria torna-se mãe de Deus, colocando assim sua figura como intercessora pelos homens diante do filho-pai-Deus-Jesus. Ela se torna, por uma figura materna, alguém que passará a intervir e interferir nos negócios divinos, como alguém que aplaca a força do arquétipo do Deus dos exércitos, deixando Deus ser a cabeça da relação da criação, conquanto que ela seja o pescoço e a mova para onde quiser, mas bem sutilmente como as mulheres fazem.
Na figura de mãe, Maria interfere nas decisões de Jesus, que ao assumir a posição Deus a obedece pela ascendência materna. Se isso não desse já nó nos neurônios, já seria algo difícil de concebido, mas em termos psíquicos muitas coisas podem ser traduzidas daí.
Uma figura poderosa de mãe pede ao filho que mora dentro do pai e cuja natureza se lhe confunde tem poderes acima de Deus, indiretamente. É dada a mulher-Maria este poder de persuasão da divinidade, de atenuação da fúria do Deus judaico, na busca de resolver um problema edipiano com Deus. Aqui, Jesus não mata seu pai, porque ele é seu pai e filho ao mesmo tempo e nessa fusão Maria não é fecundada pelo filho-pai, mas pelo pai-filho. Abre-se a perspectiva incestuosa de Jesus marido-filho e a aceita de Deus-marido e pai. Jesus está como filho e casado com sua mãe, pois é pai e filho.
Muitos séculos mais tarde, através de Freud e Jung, entre outros, o entendimento da díade mãe-filho favoreceu o entendimento da formação de caráter dos indivíduos e de suas relações inacabadas, neuróticas, psicóticas, etc., abrindo espaços para a compreensão de como se formam os imprintings, as formações primárias, decorrentes da relação mãe-filho-pai, intra e extra-útero. Que estudos poderiam ser feitos sobre a influência desse imaginário que, historicamente, recebeu no ocidente uma influência tão grande dessa história bíblica, independente de considerarmos a veracidade? Aqui não discutimos a história, mas o simbólico dela, seu imaginário e cada um será sempre para o seu semelhante história e metáfora, significado e significante.
Essa mesma influência poderá ser vista no oriente através de Buddha, príncipe nascido de Yasodhara e que proclamaria mais tarde que a lei suprema era a de que cada um deveria amar a todos os seres senscientes como se fossem sua mãe. A força arquetípica da maternidade em ambas as culturas, com as diferenças compreensíveis, favorece um engessamento dessa figura, que, na sociedade de relação, parece não ter seus direitos humanos aceitos, uma vez que a divinização da mulher-mãe a alija da condição de fêmea, de mulher comum, etc. distanciando-a da condição humana. Mãe é algo tão poderoso que a mãe de Jesus também era a mãe de Deus e, assim, a rainha dos céus. Parece blasfêmia o que escrevo e me sinto um herege, prestes a ser queimado. KKKKKKKK ( risos )
Em contrapartida a figura de Maria e Yasodhara, entre outras supermães das tradições religiosas, surgem figuras como a adúltera arrependida e convertida por Jesus, Maria de Magdala, a prostituta redimida por Jesus, entre outras figuras que compuseram os mitos das prostitutas sagradas, tendo como pano de fundo a redenção sexual e afetiva delas ao encontro do portador do fallus sagrado, mas que não se relacionou sexualmente com ninguém, apenas através da palavra e algumas vezes do toque.
Isso tem uma força maior do que se possa supor. Para a cristandade ocidental, como para os orientais, a palavra e o toque são sacralizados a tal ponto que a sexualidade, considerada uma força em desalinho, é equilibrada ao suave ciciar das palavras da verdade pungente e do toque suave, que a afaga e a amaneniza. Isso soa estranho. Não digo não ser possível a sublimação das energias sexuais humanas, através de uma boa canalização, que faça o ser investir suas forças e dela haurir prazer orgasmático e renovação de vida, mas daí a generalizar em forma de mito que os seres angélicos são donos de um equilíbrio fundamentado na ausência do coito vai enorme distância. Isso me incomoda.
Eu me pergunto até que ponto a Mariolatria foi um recurso, inconsciente ou não, doloso ou não, de reprimir as forças sexuais, libertas por Jesus. O mestre Galileu em momento algum nos evangelhos conhecidos e no pouco dos apócrifos que foram a lume apresenta repressões ou castrações. Ele apenas assinala que o juízo deve ser proporcional a autoridade moral de cada um, demonstrando a hipocrisia ( hipo=pouco; krinein = critério, avaliação ) da sociedade e aos considerados infratores desta sociedade concede a paz, apenas demarcando que, uma vez conscientes de que algo lhes é inadequado, por que continuar ? Quando diz “Vá e não peques mais . “a sua não é uma sentança condenatória. Em nenhum instante vemos Jesus por-se na condição da preocupação substitutiva, oferecendo respostas prontas, mas clama para as possibilidades mais próprias de cada um a quem se dirige, oferecendo a preocupação libertadora e a dimensão mais verdadeira do Sorge, do cuidado Heideggeriano.
Foi a igreja com sua estrutura de poder que se apropriou do pecado-erro, merecedor de punição, em uma sociedade de indivíduos ávidos por alguém que lhes imponha a figura disciplinadora e se responsabilize por todos os seus atos, ainda que ao preço de sua liberdade. É a insegurança humana, na forma de desejo de controle dos fenômenos da vida, sem certezas nem garantias, que deu poder e voz a essa repressão como se ela pudesse salvar a humanidade do gozo de sua própria liberdade. Gozar libera e liberta, relaxa e acalma, unifica, mas também clareia a mente. Um ser sem gozo é um indivíduo atormentado pelo desejo de se livrar da tensão que sente dentro de si, uma massa de manobra passível de ser dirigida por quem se considere o dono do fallus, do cetro e do poder.
A superposição do conflito chamado por Freud de edípico aos fatos históricos que deificaram Maria e unificaram Jesus e Deus, como Rá, Osiris, Horus e Isis,assim como Brama, Visnhu , Shiva e Shakti, etc. hipertrofiaram o complexo edípico a um ponto jamais imaginado por muitos.
A mulher-mãe-de Deus é mais poderosa do que Jocasta sonhou ser no inconsciente humano, é inatingível e o Pai-Deus ressucita dos mortos através de seu Filho-Deus, que são a mesma pessoa e duas ao mesmo tempo. O Pai é morto pelos seus filhos através da crucificação do filho-pai, mas eis que o Pai e Filho ressucitam dos mortos. Laio morre e não volta dos mortos para cobrar seu assassinato. É o destino que faz o herói percorrer a sua desgraça, como punição dos deuses que conhecem os bastidores da trama. Édipo é o ego dirigido pelas forças ignoradas do inconsciente , a lutar pelo amor de uma mãe que não sabe que é sua mãe, matando seu pai, quando não sabe ainda que o é. No drama evangélico, Jesus-filho não mata seu Pai-Deus, até por serem eles dois o mesmo, mas se mata ao enfrentar o poder temporal, sendo assassinado pela população em sulfrágio infamante. Maria não se casa com Jesus, mas vive com ele durante todo o tempo e José, o pai adotivo deixa de ser citado como se nem existisse nos evangelhos. A relação incestuosa de Jesus e Maria surge purificada em um celibato profundo, onde nem Jesus, nem Maria se tocam, sexualmente, mas não se permitem qualquer coabitação outra, além de tirarem José do páreo. Não discutimos aqui os fatos históricos, impossíveis e inacessíveis, mas discutimos o imaginário que o texto da vulgata trás, psicanaliticamente, ao imaginário ocidental. A visão castradora do evangelho se fundamenta numa negação da sexualidade, para pertencer a uma família imaculada, onde a figura de pai é deificada e distante, a materna imaculada e não desejável por quem quer que seja. A figura de José representa as convenções sociais, onde, mesmo que casada, a prima noite de Maria foi com Deus-Pai, para dar a luz ao Deus-filho. Ela é a portadora-mãe do fallus sagrado em todos os níveis e não o divide. José é abandonado na leitura evangélica. Que é feito dele ? Quem é esse pai adotivo em cada um de nós ? Resultado dessa inacessibilidade ? Um ultrarecalque, uma ultracouraça castradora, portadora da doença e da morte.
Maria mais inatingível que Jocasta, figura quase como uma das virgens puras do Olimpo grego, o Pai-Deus morto pelos homens ressucita no Filho, ou vice e versa. O temor gerado pela ressurreição é enorme, porque a castração edípica já presente em todos os homens e mais atávica ganha o reforço do pecado contra Deus e Jesus. Isso toma dimensões civilizatórias graves, levando a clausuras, posturas excêntricas dentro e fora da igreja nascente, até a explosão violenta da libido reprimida com a inquisição, que transforma em pulsão homicida todo o gozo do reino dos céus reprimido. Isso é sério e grave ainda hoje em nossos dias.
Temos que ressaltar que Paulo de Tarso, apóstolo, é o responsável por levar o cristianismo aos gentios, aos romanos, a todos os povos e que muito ou quase tudo o que herdamos em matéria de pensamento cristão descende da igreja de Corinto e de Antioquia, ganhando as tinturas da rigidez de Paulo, que de Deus a Jesus, de Saulo a Paulo, mudou de sentido na sua rota de perseguidor de cristãos e doutor da lei mosaica a um doutor da lei do Cristo, mesmo que não tendo se posto neste lugar. São as pessoas que nos põem nos lugares, muito mais que nós mesmos. Não o responsabilizo pela leitura equivocada que o imaginário humano é capaz de fazer, mas ele, com sua pujança e destemor, foi o líder fálico usado para ampliar este estigma castrador da pureza assexuada do evangelho. Matara Estevão, o antigo Jeziel, um dos primeiros mártires do cristianismo nascente, após o que depara-se coma realidade de que sua amada, Abigail, é irmã do morto. Ela morre cristã e longe dele e em sua fúria de destruição encontra o Cristo, que o cega, que o cura através de Ananias e ele ressurge, fálico, por Jesus, onde Poe o seu amor eo seu tesão, a sua paixão reprimida, cujo objeto fora-lhe arrebatado pela morte.
Apesar da história ocultar fatos só acessíveis aos registros acásicos das esferas vibratórias superiores, a história que a Terra herdou apresentou todos esses viezes literários e simbólicos, donde se vê que o pensamento cristão ( e não de Cristo ) foi sendo deformado em sua proposta de liberdade e responsabilidade, transformando-se em uma força repressora das mais temíveis, responsável por muitos pacientes de distúrbios mentais.
Mesmo com Martinho Lutero, reencarnação de Paulo apóstolo, após 1529, com a dieta de Espira e a reforma protestante, outras manifestações repressivas vieram a se somar as anteriores e não menos violentas. A inquisição católica e a protestante mataram muitas criaturas, ceifaram famílias, sem contar as mortes em vida que contribuíram para gerar no seu próprio seio, quando homens e mulheres buscavam na repressão e canalização à força das engrenagens delicadas e poderosas da libido a santidade e o céu.
No protestantismo, a mulher foi mais uma vez reprimida além dos homens, quando da retirada do culto aos santos e a Maria, fazendo submergir ao inconsciente o feminino, para somente se permitir a presença fálica do Deus supremo.
Se nos alongarmos ainda mais, vemos que das deusas poderosas gregas, romanas, babilônicas e celtas até Lilith que enfrenta Deus, desta a Eva e a serpente expulsas do paraiso, desta a Maria e ao silêncio de sua figura em plena Idade Moderna, a mulher e com ela todo o feminino, todo o lado imaginário e simbólico a ela ligado foi submergido de várias formas, criando humanidades doentes ao longo dos séculos, como variadas formas de repressão e sutilização dos traumas inconscientes delas decorrentes.
Que influências estas flutuações do imaginário coletivo, consciente e incosciente, conhecido e ignorado, exerceram sobre a nossa humanidade, sobre os sexos e as sexualidades ? Difícil alcançar todas num só golpe. Vemos a humanidade doente afetivamente, amorosamente e sexualmente, como uma dificuldade enorme de vínculo, um recrudescer da animalidade amordaçada, mas não educada, clamando pela sua cidadania negada, mas rompendo os diques irresponsáveis do passado nas patologias do presente.
Defesas mais ou menos fóbicas ao feminino ou deificação isolacionaista e uma gama de andares intermediários entre um e outro campo fomentam as relações doentes que temos com as mulheres dentro de cada um de nós. A grande deusa, que foi sufocada por Maria virgem, que sufocou junto de si Lilith, Eva e muitas outras mulheres, desde a antiguidade clássica, bem como, no oriente, Kuan Yin, após tantas figuras fortes do panteão hindu pré-dravídico, antes do domínio ariano, patriarcal e repressor, todas estas mulheres e muitas outras andam, discutem, conflitam e buscam a paz dentro de nós. E nós, as ouvimos ? Sentamos para conversar com essas mulheres devoradas por nós mesmos ?
A demonização repele e a deificação isola e afasta com tanta efieciência quanto a demonização, ambas as formas de alijamento do feminino calando as vozes de muitas mulheres em nós. O conhecimento destas figuras, culturalmente constituídas em suas histórias, lendas, etc. nos permite enxergar cada vez mais potenciais que jazem ocultos dentro de nós, aguardando o foco luminoso da consciência, para que emerjam e sejam experimentados como totalidade, realizando-se em nós, que somos céu de tantos deuses e queremos nos tornar latifúndios, exilando todos eles de nós, pela culpa coletiva de estarmos aqui, neste mundo. De um lado, o anseio das asas abandonadas, do outro a culpa por as havermos abandonado e a sensação de inadequação atávica a este mundo, não aceitação do drama alquímico de nossa coagulatio, para o regresso, adiante em nossa solvetia poderosa e transmutada. Virgens ou não tanto, prostituidas sagradas ou profanas, todas elas são o coro que merece ser escutado no coletivo e no particular, no singular e no plural, da dor e da alegria de se ser aquilo que se se torna a cada instante. Espero que não tarde mais este dia em nós, para nossa sanidade.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

IMPERMANÊNCIA


IMPERMANÊNCIA, GARANTIAS E CERTEZAS

A busca de certezas e de garantias, como forma de estabilidade, esconde a necessidade de controle, presente n a criatura humana, como resposta ao medo e a iminência de perda ( de objetos, pessoas, situações ) daquilo que valore como essencial a sua vida e a felicidade, trazendo sofrimento atroz e angústias inomináveis ao ser humano.

Remascente do desejo territorialista atávico dos instintos animais, que só reconhecem aquilo que os comportamentos condicionados aprenderam como pertencentes ao seu território e assim ao seu espaço de segurança, avança de forma mais complexa na criatura com o advento da razão, mas sem diminuir a sua intensidade, porque uma força não consciente.

O ego constituído e que tagarela sem cessar, teme o seu silêncio, por não reconhecer outra forma de existência que não seja no infinito fluxo de linguagem , como se esse estresse a que se submete também pudesse constituir a assinatura de sua imortalidade. Fomenta pensamentos atrás de pensamentos, fazendo o indivíduo pular de galho em galho mental, como se não pudesse e não tivesse o direito de parar por instantes e observar-se a si próprio e verificar no incessante dançar da natureza outras formas e universos a devassar. Aprisiona o ser, faculta a geração de crenças, para sustentar essa paralisia na forma de movimentar, dilantando suas esferas de ação no comportamento humano, que lhe recebe as injunções doentias e sempre destrutivas.

Inúmeros teóricos da psicologia e das ciências psi buscaram entender-lhe as origens, observando que, a despeito de partilhar a mesma origem do instinto de preservação como uma lei biológica de conservação, ao contrário de robustecer-se nos sentimentos mais requintados, até o encontro com as emoções do amor, hipertrofia-se, como um foco obsidente pela sua única preservação, tornando-se um centro egoístico e parasita das emoções do ser em desenvolvimento.

Essa necessidade de certeza e de garantia nega os princípios da própria vida, que consiste num universo ou em múltiplos universos, que se sustentam a partir de si mesmos, interagindo com o caos existente, as diversas forças que agem, reagem e interagem, aprendendo a sustentar-se e a auto-organizar-se a partir de uma ordem implícita e que se revela, através do jogo das probabilidades como sempre a melhor escolha no continum do progresso. A vida percebe que a impermanência é a constante dos universos e, nesta impermanência se constrói, sem medo de sua degenerescência momentânea, e que lhe faculta encontrar novas formas evolucionárias, mais amplas e mais complexas, quanto belas e úteis a si mesma e aos demais elementos dos multiversos aos quais pertence. Essa capacidade auto-organizadora, negadora voluntária da desorganização ou neguentrópica lança a natureza sem medo ao caminho da própria evolução e seleção, de modo que a emoção básica medo, biologicamente já existente nos seres primeiros da escala, evolve para a forma de preservação e superação dos embates do próprio processo de desenvolvimento, aprendendo as melhores formas e os melhores caminhos, a fim de se sustentar, manter dinamicamente o equilíbrio-não-inerte, a vida.

Certeza, para a física contemporânea, é paralisia e equilibrio é morte da vida.

O movimento, o caos no qual se nasce, do qual se emerge como uma possibilidade e uma rede de possibilidades, eis o conceito contemporâneo da física e da biologia. Nada há certo ou equilibrado, se vivo, e manter-se vivo é aprender esses valores, não negá-los e usar esta corrente ao seu próprio favor, contra a lei entrópica que marca o sistema conhecido como material dentro da visão galilaico-newtoniana.

Muitos indivíduos se sentem angustiados pelo fato de enxergarem a ausência ou a inexistência de certezas e de garantias na vida, sejam nos relacionamentos individuais, como coletivos, seja no trabalho e em suas relações. Isso também surge no desejo coletivo por um fim de mundo escatológico, numa ânsia de punição coletiva por um Deus, por uma natureza vingativa, cansada do parasitismo humano. E essas incertezas atordoam, porque retiram da inércia e nos fazem pensar e repensar no que estrutura nossos medos de incerteza, de instabilidade e de falta de equilíbrio. O que estrutura esse medo ?

Penso que esse medo, ainda que estruturado em reinos primevos da evolução, o que pode ser visitado nas obras do famoso psiquiatra Mira y Lopez, advem da distração ou incosnciência do estado de imortalidade da própria vida. Tememos nossa finitude e o fato de não podermos amanhã estarmos aqui nos condiciona a respondermos negativamente a tudo o que constele esse mesmo princípio ou que apresente o mesmo significante de finitude em nós

Associado ao medo de finitude, temos nossa identificação com essa forma de viver, com nosso corpo e nos confundimos com ele, como se o fôssemos ele e não como se ele fosse parte de nós e das engrenagens que nos constituem neste mundo e isso em muito dificulta nosso desapego a esta forma de viver e a tudo o que a ela se vincula, temporariamente. Confundindo o ser com a máquina biológica que o veste, permitindo-lhe viver nesta biosfera entrópica, fixando-se nas reações que o corpo experimenta, essa percepção corporal confere a alma a sensação de que ela é o corpo e que tudo quanto ele sente é portador da verdade, abrindo espaço para as confusões do apego em termos mentais, como emocionais, porque até que se conscientize do que é, se desvincule e desidentifique das ilusões, promovidas pelas fusão identificativa que a encarnação promove com o ego e com o corpo, a alma já terá sofrido pelo medo de se dissolver junto ao fim das organelas biológicas, instinto esse pertencente ao organismo físico, que possui programação adrede estabelecida para isso. Haverá esse choque ente o instinto biológico do morrer e a incoerência sentida pela alma, tendo como resultante desse conflito o medo como sofrimento da perda e o protesto contra aquilo que se pensa ser capaz de perder.

A vida são incertezas, são oscilações e são instabilidades e deve-se aprender a nadar ao influxo destas ondas, com a tranqüilidade de que a ausência de garantias, dentro e fora de si mesmo são um fato a ser encarado e enfrentado com a tranqüilidade possível. Ninguém ou nada pode oferecer certeza ou garantias, nem uma relação, nem um fato, nem uma posição, porque tudo muda a todo instante, para garantir a evolutividade da própria vida e seus elementos. O apego a posse da certeza adoece o ser humano, levando-o a um estado de insegurança evitável, em um aspecto doloroso da ansiedade, que não o salvará a evidência dos acontecimentos. Com ou sem paz, as mudanças ocorrerão, com ou sem harmonia interior elas terão de ocorrer, porque os seres se modificam, as circunstâncias e os referenciais. Essa mutabilidade de tudo e essa inexorabilidade deve constar na pauta de cada um não como um arauto da confusão, ou como a certeza de que não devemos nos vincular a pessoa ou a coisa alguma, mas sim, para entendermos que cada um de nós pertence a uma vida maior e auto-consciente e que temos um propósito a identificar a cada instante, em uma orquestra bem maior. Esse fato também colabora, para entendermos que não há separação possível, nem afastamentos, pois uma vez vinculados, as teias dessas vidas se esticam, se propagam ao infinito, desenhando novos liames energéticos, de modo a unir toda a família humana, animal e vegetal, numa única família na natureza imanente e transcendente do Deus em nós, como o concebermos.

Somente assentado sobre a própria imortalidade o indivíduo logra divisar a indestrutibilidade de tudo quanto haja construído de bom, de belo e de verdadeiro, de modo que não deve temer as aparentes separações, desvinculações e mudanças, sejam quais forem, pois, tão logo ocorram, traduzem uma mudança de enfoque que a vida lhes pede, a fim de grajearem mais altos patamares de aprendizado e consciência.

Mesmo com o fenômeno biológico da morte e a disjunção corporal, a vida apenas muda de faixa vibratória, nos irmanando com entes em esferas transcendentes as que vemos e percebemos com nossos parcos sentidos, modificando e dilatando os sentimentos na direção de um amor-liberdade, de um amor-cocriador, vencendo a paixão-prisão, último resquício de nosso medo de perda.

Não perdemos pessoas, não perdemos almas, perdemos apenas coisas, objetos. Nem as experiências são perdidas, porque caminham dentro de nós, em cada ato, gesto, pensamento.

Não devemos nos privar da alegria, nem tampouco da oportunidade de amar a quem quer que seja, pois, mesmo que não permaneçamos ao lado sempre, estaremos para sempre vinculados as malhas desse amor maior e concreto, muito mais do que nos permitimos – pelo medo – de sentir e viver.

Sou merecedor(a). Mereço tudo o que é bom.
Em minha mente, sou livre.
Agora me transporto para um novo espaço de consciência,
onde estou disposto(a) a me ver de maneira diferente.
Estou decidido a criar novos pensamentos
sobre mim mesmo e minha vida.
Meu modo de pensar torna-se uma nova experiência.

Eu agora sei e afirmo que sou uno com
o Poder de Prosperidade do Universo.
Assim, prospero de inúmeras maneiras.
Está diante de mim a totalidade das possibilidades.

Mereço vida, uma boa vida.
Mereço amor, uma abundância de amor.
Mereço boa saúde.
Mereço viver com conforto e prosperar.
Mereço alegria e felicidade.
Mereço a liberdade de ser tudo o que posso ser.
Mereço mais do que isso. Mereço tudo o que é bom.
O Universo está mais do que disposto a manifestar minhas novas crenças.
Aceito essa vida abundante com alegria, prazer e gratidão, pois sou merecedor(a).
Eu a aceito; sei que é verdadeiro.
Sou grato(a) a Deus por todas as bênçãos que recebo.
Amém.